Falar em direitos humanos nunca esteve tão na moda, mas será que os direitos humanos são para todos, ou somente para quem convém aos homens que sempre dominaram as estruturas de poder?
Seria a mulher um ser humano, ou uma espécie de animal que deve viver na sombra dos desejos mais obscuros dos homens?
Se a Esquerda não se distanciar do machismo e misoginia da sociedade patriarcal, quem irá lutar contra a violência sexista que vem sendo exercida contra as mulheres por milénios?
Haverá lugar para as mulheres numa sociedade dominada por homens, onde homens se assumem defensores de direitos e liberdades para mulheres, mas só enquanto esses direitos e liberdades estão de acordo com os interesses masculinos?
A elite intelectual, que se assume como moralmente superior, tem vindo a demarcar-se na Esquerda. No entanto, mais não faz que subjugar e valer-se do seu prestígio, e disso são prova viva os recentes escândalos de assédio sexual envolvendo Boaventura de Sousa Santos, um dos maiores nomes da Esquerda em Portugal, e Silvio de Almeida, Ministro dos Direitos Humanos do Brasil, também figura vinculada à Esquerda.
O que têm em comum estes dois homens, além do envolvimento em crimes de assédio sexual com mulheres do seu meio? Ambos professores de profissão, dois homens de muita influência, poder, carreiras de sucesso e, alegadamente, defensores dos direitos humanos, por outras palavras: homens acima de qualquer suspeita.
Mas a verdade é que não basta colocar-se do lado dos oprimidos em palavras, ganhar prestígio falando por eles, é preciso que a postura seja digna de tal. O que não parece ocorrer nos casos dos acusados, já que ambos parecem ter assumido os comportamentos dos opressores, assim que tiveram oportunidade.
Silvio de Almeida é também advogado, defensor dos direitos ligados à luta antirracista e, assim como Boaventura, já contribuiu com escritos seus para coletâneas de textos feministas. Mas será isso tudo suficiente para que alguém seja digno de admiração entre os comunistas? Para um comunista, a luta contra o capitalismo e todas as formas de opressão que estruturam o sistema não se resume à produção de belos discursos, cheios de palavras de grande efeito, as quais, por mais que possam ser úteis para instruir, tornam-se vazias quando não são acompanhadas pela prática.
Ser comunista exige uma postura de combate constante às injustiças sistêmicas, exige caráter, exige exemplo. A nossa militância deve ser ação. Não podemos fechar os olhos para a opressão que ocorre diante de nós ou procurar relativizá-la porque não gostamos do que vemos.
Será a Esquerda de facto feminista?
Uma Esquerda verdadeiramente comunista precisa ser feminista.