A classe trabalhadora sabe dos malefícios que as drogas causam, e a ampla maioria de seus membros opõe-se à sua legalização.
Contudo, verifica-se que muitos grupos de esquerda advogam pela descriminalização dos entorpecentes para uso recreativo, o que simplesmente acabaria por retirar o comércio de drogas da ilegalidade para o inserir na lógica do sistema capitalista, de sorte que acabariam por se tornar um produto sujeito a todas as normas econômicas neoliberais – o que criaria, por óbvio, a existência de um mercado paralelo ilegal, tal qual a “pirataria” de itens de consumo de preço elevado ante a diminuta capacidade financeira da população em geral, de modo que o combate violento ao tráfico continuaria a ceifar milhares de vidas dos usuários e traficantes pobres, aliciados pelos grupos organizados para poderem sustentar o vício, ao passo que os usuários de classes média e alta conseguiriam consumir os entorpecentes vendidos em pontos legalizados de venda.
Portanto, a chamada “guerra às drogas” não acabaria, somente seria substituída por uma “guerra ao comércio ilegal de drogas”, e a população pobre, periférica e racializada continuaria a ser a principal vítima.
Ademais, qualquer trabalhador conhece a tragédia que se instaura na vida de uma pessoa viciada, de modo que somente um burguês ou irresponsável poderia deixar de ver problema no fato de que o uso de entorpecentes para a recreação pode induzir à adicção, quadro de inegável gravidade, que gera prejuízos inestimáveis à sáude e uma conduta desregrada, com tendências à violência e ao cometimento de delitos.
Mesmo o seu uso recreativo, quando constituído em hábito, pode gerar problemas sociais que recaem principalmente sobre os mais pobres, que necessitam da plenitude de suas capacidades intelectuais e físicas para obter e manter postos de trabalho e para o desempenho estudantil satisfatório.
Mas o uso da droga, como produto que rende elevados lucros ao sistema capitalista, é anunciado como ato de rebeldia, como atitude subversiva, quando, em realidade, apenas escraviza o usuário, fazendo-o consumir cada vez mais.
E, não nos enganemos: apesar de movimentar a economia das periferias, este mercado, assim como todos, pertence à classe dominante e financia os seus luxos, as suas campanhas eleitorais, as suas empresas e todas as suas estruturas de dominação. Quem vê a base da pirâmide se esquece de que, em realidade, ao consumir, fortalece aqueles que estão no topo e têm poder para fazer com que os “peões” da base arrisquem a vida por eles – como, aliás, ocorre em diversos setores da economia capitalista.
Num cenário em que se discute a eliminação do consumo de tabaco e a redução do consumo de álcool, com inicativas legislativas para tais finalidades, com base nas descobertas científicas que apontam para a nocividade destas drogas lícitas para a saúde humana, revela-se contraditória, anticientífica e dissociada dos interesses da clase trabalhadora a defesa da legalização de substâncias que, comprovadamente, causam deterioro das funções cognitivas e da funcionalidade de órgãos vitais.
A adesão popular às políticas de diminuição do consumo do tabaco e do álcool indica que a população compreende os malefícios destas drogas, ao passo que amplos setores da esquerda, ao adotarem postura negacionista da ciência e postularem a legalização de susbtâncias nocivas, o que poderia levar à banalização de seu consumo, acarretam um afastamento de muitos trabalhadores dos movimentos sociais, visto que o estado de alienação e os danos à saúde causados pelos entorpecentes são encarados como indesejáveis e especialmente lesivos para os mais pobres.
A defesa de tal pauta é, por vezes, embasada na ideia de que os oprimidos deveriam poder fazer uso livremente de ferramentas que promovessem uma espécie de “libertação” da realidade opressiva em que se encontram inseridos, o que contrasta com a luta histórica da classe trabalhadora pela mudança nas relações entre o capital e o trabalho, objetivando a construção de uma sociedade em que tais opressões não mais existam.
A banalização do uso de entorpecentes, assim, contradiz a lógica da luta, favorecendo uma alternativa que apoia-se no entorpecimento dos sentidos e na alienação, instrumento que já foi utilizado pela própria classe dominante para abrandar os ânimos revolucionários dos explorados (a exemplo do vício em ópio de milhares de chineses, disseminado propositalmente pelos ingleses no século XIX).
Além disso, são evidentes os impactos do uso de drogas na sobrecarga do sistema público de saúde, bem como as repercussões à saúde mental dos usuários, sendo que vários estudos apontam a relação entre os quadros de demência e de transtornos mentais e a utilização de entorpecentes.
Assim, não resta dúvida sobre qual deve ser a postura da esquerda comunista quanto ao tema: se interessa ao capital que vivamos alienados, que gastemos o nosso dinheiro num produto que nos prejudica e mata, e que transfiramos os nossos rendimentos para as mãos deles por meio do consumo, a fim de que possam custear estruturas de poder que nos oprimem, cabe a nós a defesa da ilegalidade.