O feminismo não é e nunca foi sobre embalar as mulheres no colo independentemente dos seus erros .
Infelizmente, vê-se muitas mulheres a usarem o feminismo como escudo para toda a impunidade, desconsiderando o facto de que ainda que vivamos numa sociedade patriarcal que nos estimula a reproduzir comportamentos errados, bem como que as mulheres também têm defeitos, também são causadoras do caos, dor alheia e uma série de crimes e como tal devem ser responsabilizadas.
Subitamente há quem defenda que mulheres não podem falar de outras mulheres, que isso seria somente o reforçar da rivalidade feminina que tem sido promovida pelo patriarcado. Mas a critica e o questionamento devem ser direcionados a todos. Ainda que vivamos numa sociedade patriarcal e muito do que experienciamos seja decorrente de uma socialização que nos foi imposta, não podemos esquecer que, salvo exceções, todas as pessoas têm capacidade de distinguir entre o bem e o mal e, assim sendo, cabe-nos mudar para nos afastarmos das condutas daqueles que mantêm as mulheres aprisionadas num manto de machismo e misoginia.
Que tipo de seres humanos são aqueles que afirmam que é direito das mulheres adoptar os mesmos comportamentos que consideram nocivos nos homens, tais como o abandono dos filhos e a infidelidade conjugal?
Todos os seres humanos erram, mulheres não são anjos impunes a toda a critica.
Há mulheres que exploram outras mulheres, mas na bolha feminista ninguém parece preocupado com isso. Limitam-se a dizer "a nossa guerra é contra o patriarcado, não nos vamos virar contra mulheres. A rivalidade enfraquece a nossa luta", ou " as mulheres são única e exclusivamente vítimas da sociedade", ou, ainda, "os homens fazem coisas piores".
Ocorre que os questionamentos quanto às atitudes de algumas mulheres nunca implicaram em virar-nos contra elas, mas antes em estarmos conscientes de quem está na luta connosco, porque muitas mulheres beneficiam-se do feminismo de forma egoísta. Muitas mulheres pouco ou nada se importam com as demais, são narcisistas, frias e calculistas. Há mulheres que nunca tiveram problema em fazer das outras mulheres escada para se elevarem. Vamos esquecer tudo isto? Parece que, em alguns setores do feminismo, o número é mais importante que a qualidade.
Mulheres também abusam, violam, perseguem e matam, mas, por vezes, parece que estão imunes a críticas, convertidas em vítimas da sociedade, anulando as verdadeiras vítimas, que são, na maioria da vezes, crianças e outras mulheres.
No contexto da militância feminista digital, quando se tenta falar sobre violência infantil e o papel da mulher nessa violência, a mulher que questiona costuma ser duramente criticada, sob a alegação de que está a expor ou atacar outras mulheres, porque aparentemente o dano causado só importa quando é feito pelos homens. Há quem afirme, inclusive, que a culpa das mulheres violentarem crianças é dos homens, porque há uma hierarquia na violência. Basicamente, argumenta-se que as mulheres batem nas crianças porque os homens batem nelas e, portanto, não podem ser responsabilizadas. Porém, há milhares de mulheres que praticam violência infantil sem viverem com homens e, muitas vezes, quando a violência ocorre, os homens é que defendem as crianças.
Ademais, algo que é praticamente um assunto tabu no meio feminista é o narcisismo materno, e poucas são as feministas que se permitem reflectir sobre o seu dano - o que poderia, inclusive, gerar uma autocrítica, pois muitas delas são mães. Infelizmente, ser feminista não liberta a mulher de todo o mal que há na terra.
Fala-se muito sobre pedofilia e abusos infantis, mas somente quando o homem é o rosto do delito. Mas onde andam os estudos sobre pedofilia e abusos infantis praticados por mulheres? Ainda que as mulheres façam parte do problema em menor número (não temos sequer como saber qual a abrangência desta prática criminosa), também devem receber enfoque.
A única forma de se criar uma sociedade melhor é aperfeiçoando homens e mulheres. Ainda que nos sintamos como vítimas e de facto o sejamos, nós também vestimos muitas vezes a pele de opressor, carrasco, racista, xenófobo, preconceituoso e tantas outras que jamais deveriam existir.
E nada disto é sobre libertar os homens da sua própria culpa, antes reconhecer que, quando a culpa está entre as mulheres, ela deve ser exposta e jamais varrida para baixo do tapete. Porque ou almejamos uma conjuntura social em que os homens aprendam a deixar de oprimir as mulheres ou queremos um contexto em que todas as pessoas tenham o direito de ser opressoras. E, se for eleita a segunda opção, estamos diante de uma luta feminista liberal.