Será que a exploração que vivemos só pode ser assumida quando do outro lado está alguém da elite?
Muitas pessoas afirmam que classe média alta é apenas gente explorada que ganha um pouco mais, que não tem poder para explorar ninguém. Mas será isso verdade?
Não seria perigoso este discurso que invalida parte das explorações que os trabalhadores vivenciam?
Por muito longe que a classe média esteja da elite, ela continua a não ser parte da classe baixa, aquela que está abaixo de todos e tem de lidar com violências, opressões e exploração promovidas por aqueles que, ainda que não sendo elite, têm um determinado poder.
Explorar não significa apenas criar fortuna com o trabalho alheio, é fazer-se valer da vulnerabilidade do outro, é negar-lhe um tratamento e pagamento justos. Assim, é possível reconhecer que na relação entre indivíduos que não são da classe dominante pode haver também exploração.
Se um funcionário, que ganha 10 mil por mês, contrata o serviço de uma pessoa para cuidar da sua casa, filhos, ou para tratar de uma obra, e desvaloriza o seu trabalho a ponto de lhe pagar um valor inferior e nega direitos laborais, não estaria também a explorá-la?
Certa vez, uma moça que trabalhava numa loja, não ganhando muito mais que um salário mínimo, justificou o pouco que pagava à mulher que lhe cuidava da casa com "ganho pouco, não posso pagar mais que isso". Se uma pessoa não tem capacidade para valorizar o trabalho de outra, com que direito se vale da sua condição para privá-la do justo?
Em conclusão, não devemos apenas repudiar a elite, mas todos os comportamentos de exploração e opressão que ocorrem entre pessoas da mesma classe social, assim entendida a classe trabalhadora;
Negar que essa exploração e opressão existem é condenar os mais vulneráveis, os mais pobres, a longos ciclos de destruição.